terça-feira, 24 de julho de 2007

Poesia, Pegada & Groove

As coisas estão aceleradinhas, mas muito, muito boas!
Daí o meu sumiço daqui. Aliado a um mau humor periódico que acomete o blogger com relação a minha p'ssoa!
Esses dias foram de arrumações, reorganizações e inspiração (que nem só de coisas práticas vive o homem).

Fui abraçar duas queridas, Moniquinha e Pati, pela perda da mãe, a poeta Marly de Oliveira. E eu é que fui premiada, com uma homenagem à ela. A leitura de suas poesias foi feita pelo primeiro marido, o embaixador Lauro Moreira.

Poeta de mão cheia, inspiração abundante e espírito elevado, dominava a língua portuguesa como poucos. Marly recebeu a justíssima homenagem na Biblioteca da República, pra onde doou todo o seu acervo de 5 mil livros.

Como eu não costumo guardar pra mim o que vem de bom, deixo com vocês um dos mais belos poemas dessa mulher que além de ter nos dado as duas lindas filhas, ainda teve a sorte ( e o merecimento, com certeza!) de conviver com muita gente talentosa como Clarice (sua madrinha de casamento), João Cabral de Melo Neto (seu segundo marido), Manuel bandeira (padrinho de casamento), Guimarães Rosa (dizia que a linguagem de Marly lhe dava "memórias de país civilizado"), Aurélio Buarque de Holanda(que a considerava um dos grande poetas da língua portuguesa) e muitos outros.

Digo do fundo do coração, que a mim bastava que ela tivesse dado ao mundo essas duas meninas: Mônica e Patrícia.

Mas como ela nos deu tanto mais...


- Pior que o cão é sua fúria -

Pior que o cão é sua fúria,
pior que o gato é sua garra,
pior que a sanha de ferir
a que se esconde
sob feição de amor.
Pior que a vida é a não-vida
do que se faz espectador;
nem mergulha, nem nada, nem conhece
o mar fundo:
está sempre à beira da estrada.


- Poema V -

(...)
Quando flores e nuvens,
mosaicos de silêncio repentino,
frescos vales e montes,
onde a erva cresce e o gado se apascenta,
e o rio sua prata
oferece gentil, à móvel brisa
de sede sossegada,
quando tudo o que tenho for lembrança;
que será do que vejo,
se a mais fiel memória transfigura
o que lembra? No entanto,
o mesmo milho crescerá no campo,
repetindo o ritual
de há milênios; as mesmas-outras águas
espelharão no dorso
de vidro movediço os mesmos ramos.
Estas serão as árvores,
as verdadeiras, íntegras, antigas,
que só com o pensamento
eu não alcançarei em plenitude
de silêncio e de vida.
Pois uma coisa é ter, outra, lembrar.
Uma coisa é viver,
viver em bruto, o sol dando na pele,
o vento levantando
cortinas de esperança e esquecimento;
outra coisa é criar.
Criar quase prescinde do que existe.
O que existe é somente
um rascunho ou um ponto de partida.
Enquanto posso, vivo
a fértil realidade destes longes.
Laboriosa construo
com este mel, para os futuros sonhos, aprazível morada.
(...)
***
Bão, pra quem gosta de música nova e boa..
...prestenção na mistureba! No groove...
Não é ambiente e não deixa você fazer mais nada!
É quebradeira da melhor qualidade!
Ouça sentado se for capaz!
O show aqui foi no sábado.
Agora, quem estiver em Minas corra pra ver!
***
Fui.
...o pelourinho me aguarda ansioso.