quinta-feira, 9 de março de 2006

Rosebud

A criatura chega ao trabalho correndo, atrasada porque perdeu a hora num banho de Cleópatra, antes das 6 da matina. Sem tomar café, vem degustando o seu iogurtezinho natural diet/light básico pelo caminho, quando dá de cara com o Melhor Amigo Gay de Todos os Tempos (sic dele mesmo). E ele tasca essa:

“Belinha, tu ta com cara de quem comeu fato* achando que era trufa branca, hein, fofa?”


Tiveram que secar minhas lágrimas, me dar água, abanar, arrumar uma cadeira, antes que a falta de força das pernas me levasse ao chão...de rir, amores!


Thanks God!!


*é...ele é baiano. E fato é o intestino de algum animal.

***

É dele a pérola que posto a seguir, em resposta a um post antigo:

“Onde andam os homens do quilate de Brecht?
Onde andam os irmãos de alma de Machado, Pessoa, Chesterton?
Aqueles com a leveza de alma de Quintana?
Com a simpatia solitária de Drummond?
Com a veia “bon vivent” de Vinícius?
Com o gênio genial de tantos homens do passado?
Brilhantes e sarcásticos como Welles que aos 23 aninhos teve a brilhante idéia de assustar todos os bundões americanos com aquela transmissão de rádio da invasão alienígena, sem falar de Cidadão Kane, my Rosebud!
Cadê os caras que não perdiam uma fala, não pulavam um pensamento, não perdiam uma deixa, feito Wainer, Getúlio, Lacerda? Como naquele livrinho magnífico que me emprestou?
Aqueles que derramavam elegância como Humphrey Bogart, Paul Henreid, Gary Cooper? Ou os cowboys gays chiquérrimos, metidos a machos (e silenciosos!), da estirpe de John Wayne, que faziam desfalecer as virgens e as vovozinhas?
Cadê aqueles sujeitos de alma poética, sensíveis à chuva, tísicos, de hábitos noturnos, observadores atentos da vida?
Cadê aqueles que morriam de amor, ma Belle???

Pergunto pelos sabidos da nossa raça. Não entro na ideologia de cada um.
My Rosebud, eu sinto falta de ver um cara desses passar na rua, simplesmente.
Devia ser um espetáculo!”

Deixa eu explicar...primeiro que a gente se chama de nomes especiais, digamos, desde a adolescência. Imaginem os ataques que eu tinha cada vez que ele me chamava assim: My Rosebud! Eu odiava!!

Eu sempre o chamei de Mon Beau, porque ele é mesmo um fofo e uma verdadeira escultura grega!

Pra me consolar, ele jura por Deus que Rosebud, a palavra que o Cidadão Kane fala antes de morrer e que ninguém no filme explica, é o nome de uma mulher divina-maravilhosa-deliciosa-purpurinada-poderosa. Segundo ele, só existe essa explicação para um sujeito pronunciar um nome destes no último suspiro.
Hahahaha

E na tradução feita por ele, o nome, ainda por cima, é um código que descreve a relação ideal. Prestenção: “ROSE + BUD: é uma flor, uma rosa, na acepção da palavra + É uma amigona, simpaticona, companheirona, amigável, amiga dos amigos + É, perigosamente, numa analogia, a parte da Marijuana que contem mais THC, portanto, faz o cara viajar, tirar o pezinho do chão! Quem podia querer mais?”

Eu já disse que quando ele mudar de idéia a gente casa.
Sou zerinha, peguem a senha!

***

Agora, tomem uns golinhos de Brecht, tomem...

“Desconfiai do mais trivial,
na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada, de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar.”
(Nada é impossível de mudar - Brecht)


“Em vez de serem apenas bons,esforcem-se
Para criar um estado de coisas que torne possível a bondade
Ou melhor:que a torne supérflua!

Em vez de serem apenas livres, esforcem-se
Para criar um estado de coisas que liberte a todos
E também o amor à liberdade
Torne supérfluo!

Em vez de serem apenas razoáveis, esforcem-se
Para criar um estado de coisas que torne a desrazão de um indivíduo
Um mau negócio.”
(De que serve a bondade – Brecht)

***

Ontem, meu filho caçula teve uma lembrança repentina e sem razão do nosso ex-cachorro, o Choppo ( fala-se txôpo).

E se deu o seguinte diálogo:

Filho 2: - Mãe, onde ta o Choppo?
Mãe: - Não sei, amor.
Filho 1: - No céu, oras.
Filho 2: - Ta nada. Eu acho que ele ta num hospital, onde tem um monte de médicos de cachorro e eles descobriram que tem uma técnica pra consertar os ossinhos e fazer o pelinho dele voltar pro lugar. E ai, eles vão pegar o Choppo e levar ele lá em casa e dizer assim: “Agora vocês podem mandar embora essa tal dessa Gaia”.

Gaia é a nossa cadelinha, de 6 meses, por quem ele, aliás, morre de amores!

E eu, que sou besta, marejei os olhinhos.