sexta-feira, 21 de abril de 2006

ESTRANHAMENTO

Sexta de manhã. Feriado.

Dia cinza e um telefonema cheio de novas possibilidades.
Olho pra fora...e estranho.
Fico só...e estranho.
Os meninos voltam barulhando...estranho.

O estranhamento, meu velho conhecido, me visita de tempos em tempos. Nem bate mais. Entra, se instala e passa o dia a me apontar as coisas mais comuns, como se fossem novas. Com seu dedo torto de Midas, torna recém-nascido o velho e o comum.

Eu já não me rebelo, com ele não tem negociata, me rendo docemente. Deixo-o fazer a ronda, cochichando absurdos no meu ouvido.

Os móveis, as cores; o tempo, meus hábitos; minhas roupas, meus vícios, manias e os outros: são os seus objetos de desejo. E na nossa nada nova parceria, ele só levanta a bola pra eu chutar. Eu viro os sofás, giro as mesas da sala, mexo na disposição dos quadros, tiro o tapete, as almofadas, jogo uma manta na poltrona, trago de volta um puff. Me visto sem certeza, deixo pra trás três mudas de roupa, e começo a achar que não sei quem escolheu tão mal aquelas roupas pra mim. Aquele guarda-roupas sempre foi meu?

Escolho um cardápio estranho, faço misturas inusitadas. Abro meu velho livro e releio uma frase de Fauzi Arap: “ O desconhecido vicia!”. Então, me ensurdece a voz de Raul: “Sentado na poltrona, com a boca cheia de dentes, esperando a morte chegar.”. E começo a achar bom estranhar o meu todo-dia.

Quem sabe ele vem para não me deixar assentar, trazendo de volta o olhar de novidade, como o estranhamento do sublime na obra de arte? Quem sabe ele vem para sacudir a normalidade e me mostrar que, como numa psicose, o estranhamento serve de balela entre o real e o imaginário, entre o que é e o que não se conhece...mas há?


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Três semana revolucionárias se passaram na minha vida, beibes.
E daquelas superpoderosas que fazem a gente ter vontade de largar tudo que já foi feito pra trás e começar de novo, do zero.
Uma mistura de agradecimento e rebeldia, de reconhecimento e negação. Mas, mais que tudo, uma clara vontade de pôr em prática o que estava há muito sendo destilado, fermentado...e, de repente, parece ter escolhido, por conta própria, a hora certa.

A alma pede por mudança. O espírito implora pela concretização dos projetos. E o corpo, depois de padecer pelos medos e inseguranças do desconhecido, entra de acordo e começa a funcionar num ritmo muito, muito sedutor. É a minha vida, amorecos, dizendo que é por ali mesmo o caminho. E eu to indo. Buscando sempre e mais. Meio maluquete, meio inconseqüente?
Pode parecer, à primeira vista. Mas profundamente feliz.
Torçam, meus queridos.

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Eu tentei postar essa semana, juro que tentei. Mas tinha tanta coisa atrasada, pendurada, esperando por mim, que foi impraticável. E, além disso, hoje de manhã tive a clara sensação de que eu já não sabia mais “andar de bicicleta”, sabe come?

Mas vamo que vamo...eu pego o jeito de novo...em breve. Tem uma ladeirinha ali na frente...daquelas convidativas...quando a velocidade aumenta e parece que todo o vento do mundo é seu.