sexta-feira, 9 de setembro de 2005

Nova poesia brasileira

Um amigo veio reclamar de não ver novos e bons poetas surgindo.
Eu apostei que há muitos e, entre eles, alguns muito conhecidos que passam batido por falta de atenção ou por preconceito mesmo.
Essa exigência acadêmica da poesia é uma bobagem.
Colhi muitas das que eu adoro e mandei pra ele avaliar.

No meio de tantas, escolhi umas pra mostrar.
Depois me digam se não é poesia...

Não adianta
(Herbert Vianna)

Não vai mudar
Promessas nem rezas
Não vai voltar
O tempo, os dias

Fecha os olhos
Para ter a sensação
Aquela tarde
Não é mais, não

Não adianta
Vizinhos, polícia
Não vai voltar
O tempo, os dias

Em que tudo ainda estava no lugar
Abra os braços, abrace o que sobrar


Réquiem do pequeno
(Herbert Vianna)

Te falta o gesto largo, a ébria poesia
Te sobra a pequeneza, as pequenas certezas
Como Agenor dizia

A vida não te intoxica
Enquanto contas trocados
Não vês o anzol e a linha da vida
Que passam ali ao teu lado

Te falta subir ao mais alto,
Te falta descer ao mais baixo
Te sobra a maldita prudência,
Alegrias compradas a prazo

Ao invés de viver, sobrevives,
Sacrificas o essencial
Não choras de dor em finados,
Não gritas de amor no carnaval

Cometes então, que surpresa!
o sacrilégio final
Não vês a fugaz e humana beleza
E sonhas em ser imortal

O amor dorme
(Herbert Vianna)

Todo amor
Todo amor dorme

Numa caixa, numa gaveta, numa sala escura
Que às vezes visito
Como hoje num sonho
Como Deneuve entre os pombos
A abençoar seus queridos

E o tempo, senhor dos enganos
Apaga os momentos sofridos
E aqui te traz vez por outra
A passar umas horas comigo

Ficamos nós dois entre os sonhos
De amores novos e antigos
Te beijo no escuro silêncio da sala
Que às vezes visito