Coleciono dois ou três cabelos brancos de estimação junto à fronte direita. Não pinto, não disfarço e nem tampouco gosto quando alguém os descobre com indisfarçável surpresa. Não que eu não tenha idade pra isso. Aos 33 é de se esperar que alguns sinais do tempo comecem a aparecer, definitivos. Não me rebelo contra eles, não tenho medo do tempo, não penso em mostrar que não tenho essa idade, mas fico feliz pela minha miscigenação enganar, a maior parte do tempo, aos mais desavisados.
Dia desses ouvi um dos meus estagiários dizer que eu não podia ter um filho de 12 anos, a não ser que tivesse engravidado aos 13. Prontamente corrigi o mancebo e dei a ele a minha cronologia correta: engravidei com 20, tive o primeiro filho aos 21. Ele não acreditava que eu tinha mais de 30...e eu fiquei me perguntando depois por que?
Me sinto com 33 anos dos dedos dos pés à raiz dos cabelos.
Compreendo como complementares a minha seriedade e meus momentos de bobeira, ate para me salvar do pântano de filosofagens, egotrips, política e certezas absolutas em que se transformou a minha redação. E até mesmo a vida fora de lá. Com todas essas figuras quase caricatas que nos rodeiam. Talvez seja essa a minha saída...vê-los caricatamente. Talvez esteja ai a impossibilidade de o menino me perceber com mais de 30. Pelo bom humor, a leveza, a flexibilidade, sem esquecer o compromisso. Talvez esteja no fato de conseguir mesclar responsabilidade, cobrança e comprometimento com um pouco de piada.
Mas é aqui no meu cantinho, longe e protegida dos perigos do mundo, que eu vejo inteiramente os meus 33 anos. Eles estão refletidos na pré-adolescência do meu filho mais velho, nos meus 10 anos de relação, nas tiradas sarcásticas do meu caçula, na minha atual tranqüilidade onde antes só se via angústia, sofrimento e incerteza. Estão nos meus pratos, nos meus perfumes cada dia mais frescos, na minha dieta cada dia mais orgânica, na organização da minha casa, na minha disposição pros filhos, pros amigos, pro trabalho, pro marido. Estão estampados nas minhas obras de arte, nos meus livros, nos potes de tempero, nos meus textos, no meu jeito de falar. Meus 33 anos não me largam nem um minuto do meu dia.
Engraçado que, aos 30, eu quisesse ter 25 de novo; aos 17, tudo que eu queria era ter 21...aos 12, queria ter 15, mas hoje não quero nem mais nem menos que 33!
Pra quem quer me ver, eles estão lá: na harmonia, na confusão, no afeto, na minha indignação, no meu desejo, no meu corpo, nos meus amigos, nas brigas, no cuidado, no humor, nos chororôs, nos amores, nos momentos de tristeza, na minha gargalhada...eu tenho 33 anos, com-ple-ta-men-te!
ps: acordei ouvindo "One day he'll come along / the man I love /and he'll be big and strong / the man I love/ and when he comes my way / I'll do my best to make him stay."
Naaaaaaaada mais 33 do que isso, fala a verdade!!! HAHAHAHAHA
|