sexta-feira, 24 de março de 2006

Cartas à mão


Li em algum lugar e já há algum tempo que o volume de cartas tradicionalmente enviadas - aquelas com selos e que vão pelos Correios, tão lembrados?- aumentou no último ano, apesar do uso de internet, emails, msn e afins.
Fiquei surpresa e contente. Nada como uma boa carta, com a própria letrinha, com os errinhos, jeitinhos e detalhes que só uma carta à mão pode ter.
Recebi e enviei várias. Lembro-me de muitíssimas, algumas das quais ainda tenhos guardadas.
Acho que vou retomar...
Pra comemorar isso, escolhi a carta abaixo.
Absolutamente inspiradora pra mim.
"(...) Carta sua só me satisfaria uma bem longa, bem franca, em que, pondo de parte toda a inútil reserva, me abrisse o seu coração.
Eu é que não preciso fazer o mesmo. O que eu sinto não seria para ti uma coisa nova de que necessitasse uma clara afirmação; é o mesmo que eu sentia quando passeávamos mas areias da Costa Nova. Ou antes, não é o mesmo sentimento: é outro mais belo, mais completo; porque tendo, apesar de tudo, ficado comigo, desde que nos separamos, e tendo sido o doce e fiel companheiro da minha vida desde então - esse sentimento penetrou-me de um modo mais absoluto e mais absorvente, exaltou-se e idealizou-se, e de tal sorte me invadiu todo que eu cheguei a não ter pensamento, idéia, esperança, plano, a que não estivesse misturada a sua imagem.
(...) Dizer por que é que eu, apesar de tudo, insistia em pensar em si, não sei. O facto de não serem dependentes da vontade os movimentos do coração - não é uma suficiente explicação: - porque eu podia resistir à importunidade desta idéia, e em lugar disso abandonava-me a ela como à minha única alegria. - Devo portanto concluir que havia um pressentimento latente, uma vaga quase certeza, uma fé secreta de que a afinidade que existe entre as nossas naturezas se viria um dia a manifestar apesar de tudo, e mais tarde ou mais cedo nos aproximaria e para sempre.
(...)
O amor por si só é decerto uma companhia - mas não chega à companhia daquela que se ama."
- Eça de Queiroz, numa das primeiras cartas para sua então noiva e futura esposa Emília.
Coisa lindaaaaaaaa, meu Deeeeus!
beijos e suspiros.