Mudando o rumo da prosa pra coisas lindas e delíciosas...
Passamos três dias numa fazenda,
no meio da Chapada dos Veadeiros,
com um bando de amigos da melhor qualidade.
Sem luz, sem água quente, sem TV, sem internet
e sem telefone de qualquer espécie.
No segundo dia, Caio, meu filho caçula,
acorda cedinho, ouve os passarinhos cantando,
olha pro sol lá fora e me diz:
- Mãe, hoje vai ser o melhor dia da minha vida!
Os passarinhos fizeram essa música pra mim,
o sol ta me esperando pra me esquentar
e aquele riozão lá só ta me esperando chegar pra acabar com o meu calor.
Isso porque todos os meus melhores amigos
também devem estar lá na prainha,
só me esperando chegar pra começar a brincadeira!
De volta à cidade, ele acorda, hoje de manhã,
me encara e diz :
- Mãe, eu preciso que você me dê três reais
pra comprar o álbum NOVO do Harry Potter.
Mas é o novo, do filme novo.
Porque minhas aulas começam semana que vem
e eu tenho que levar pro colégio.
EU TENHO, entende?
TENHO que levar!
Senão eu não vou mais ser popular!
Eu me espantei e perguntei o que era ser popular.
Claro que ele me olhou do jeito mais blasé do mundo e mandou:
- Popular, mãe...
(suspiro) oras bolas...
é ser aquele cara que é amigo de todo mundo,
que é gente boa, que é inteligente...que é moderno.
Eu, com cara de boba, ingenuamente, pergunto:
- E você lá precisa do álbum do Harry Potter pra ser o que você já é?
E ele, mais sem paciência ainda:
- Ô, mãe, eu só vou te explicar uma vez.
Como é que o cara pode ser popular sem o álbum do Harry Potter NOVO!?
Como é que ele pode ser popular,
se ele ainda gosta de Harry Potter e o cálice sagrado?
Não pode, mãe! Claro que não!
Senão ele é um dinossauro e dinossauros não são populares.
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