Fiquei esse dias em casa, cuidando de sarar meu caçula de uma virose de inverno ( sim, o cara estuda 4 anos, faz mais 2 de residência, ainda tem mais num sei quantos de especialização, quando não tem mestrado, doutorado e pós-doc, fora a experiência clínica de vinte e tantos anos, pra dar a tudo quanto é mazela sem nome o título de VIROSE). O fato é que ele ficou ótimo e eu fiquei de cama, com...virose de inverno.
Mas nada como uma canjinha, um colinho, uns tantos cafunés e afofações familiares pra melhorar qualquer quadro.
Ainda vou reivindicar isso como tratamento clínico, cês vão ver. Ordens médicas, beibes...não posso fazer nada!
Então, resumindo a opereta, estou de molho até segunda ordem.
O meu filho caçula, anteriormente apresentado aqui, Caio, o terrível!, estuda em escola pública por uma questão meramente de inclusão e tratamento.
Explico melhor: a escola particular insistiu em me orientar a " parar de estimulá-lo", "deixar de dar a ele informações excessivas e estímulos demais"...sim, isso já me veio por escrito, com a assinatura de uma pseudo-pedagoga embaixo.
Ele recebeu das moças bem formadas e atualizadas da escola particular um tratamento de isolamento, recebeu um rótulo e toda a discriminação possível dada a um menino que tem um comportamento além da sua idade cronológica. Inclusive no que diz respeito à argumentação, curiosidade, relações sociais e maturidade emocional.
Vai daí que o ano passado me desgastou nas relações com o colégio (eu era convocada ao colégio uma vez por semana, no mínimo!) e fez de mim uma mãe indesejada, incômoda, perturbenta(porque eu ia ao colégio mesmo sem ser convocada, quando percebia alguma atitude, digamos, confusa em relação ao meu filho)... e me deixou de maus bofes com tudo quanto se dissesse a cerca da rede particular de ensino.
Procuramos de centros de educação Waldorf a escolas construtivistas, mas Brasília padece de um provincianismo atroz nesta seara. Daí, ele ter caido numa escola tradicionalíssima, com tudo de burro e ruim que isso pode oferecer.
Depois de um ano de tristes contatações sobre a incapacidade de lidar com as diferenças, resolvi procurar uma orientação, dicas, mães que tivessem seus filhos 'diferentes' acolhidos em alguma instituição que lhes desse a mínima sensação de pertencimento, que tivesse o mínimo de criatividade para lidar com isso.
Me foi indicado um pequeno Jardim de Infância, onde eu fui conversar e, plenamente convencida, matriculei o meu pequeno.
Estamos em agosto, o segundo semestre se inicia e eu tenho o imenso prazer de compartilhar, com quem quer que leia, o triunfo da escola pública sobre as isntituições de ensino particular!
Meu filho está feliz, aceito, acolhido, incluído, bem tratado e criativamente direcionado numa escola pública, que, além disso, o trata com atenção e afeto! Além de estar andando a passos largos na conquista da alfabetização.
Eu não podia estar mais feliz!
Ontem, fiquei à toa pela net e tive uma conversa pra lá de linda e funda com o meu amigo Antônio Caetano, que trouxe a ele uma lembrança deste poema do Álvaro de Campos, que é uma per-fei-ção. Prestenção no ritmo:
Se te queres matar, por que não te queres matar?
Fazes falta? Ó sombra fútil chamada gente!
A mágoa dos outros?... Tens remorso adiantado
Encara-te a frio, e encara a frio o que somos...
Que memória dos outros tem o ritmo alegre da vida?
És importante para ti, porque é a ti que te sentes.
Tens, como Hamlet, o pavor do desconhecido?
Tens, como Falstaff, o amor gorduroso da vida?
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