segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Como enfartar a mãe em quatro atos...

... ou filhos vão muito além de “chupar gilete e beber xampu”!

Personagens Principais:

Canalha 2 - Caio

Canalha 1 - Victor
Personagens secundários - orbitam entre os dois:
Mãe
Dinda
Cenários:
Colégio do Caio
Casa da família
Casa dos avós
Roteiro:
ATO 1:

Sexta, fui buscar Caio (meu caçula – 5 anos) no colégio.

A menina (Ingrid) - pela qual ele já se derramou de amores, que inclusive mereceu dele uma carta de amor de própria lavra -
veio dedo-durar que ele havia “enforcado e arranhado a cara do Mateus”.

Caio empalideceu e fez que ia chorar. Não disse pa-la-vra!

Eu olhei pra vice-diretora, que estava ao lado, e perguntei a Ingrid se ela agora estava no lugar da professora, “porque quando a professora fica preocupada com o comportamento de algum aluno, ela costuma chamar a mãe pra conversar, não é? Engraçado que eu não recebi nenhum chamado dela. Você está me dando o recado da professora?”

Ela ficou muda e Mateus, a vítima, logo que viu os olhos de Caio se encherem de lágrimas, tomou a frente e veio contando que ele mesmo tinha chutado a canela de Caio primeiro, duas vezes.

Caio saiu da escola magoado, tristíssimo, chorando abraçado comigo. Mal entrou no carro, ainda enxugando as lágrimas, vira pra mim e diz: “Eu não sei onde eu estava com a cabeça quando eu gostava dessa menina!”

(Corta pra mãe quase espocando de rir, tentando manter o mínimo de seriedade num momento tão duro. Afinal de contas, eu não podia esquecer que essa foi a primeira desilusão amorosa do meu filhote!)



ATO 2:

A gente estava lanchando enquanto passa a novela das sete:

Na TV: “Amiga, preciso tanto desabafar...”

Caio, fazendo voz de cabrón: “Desabafar é para maricas. Prefiro nem comentar!”.

(Corta para mãe, com o coração apertado, mas rolando de rir)


ATO 3:

Hoje fui levar a Lu (Dinda de Caio) pra almoçar na casa de meus pais. Eles já a conheciam de outros carnavais, mas ainda não sabiam que ele tinha escolhido e convidado a Lu para madrinha. No carro, eu fui dizendo que a gente ia contar pro vovô e pra vovó que ela agora era a Dinda dele.

Ele toma a frente e diz: “Não fui eu que escolhi? Então eu conto. Deixa comigo.”

Parei o carro na porta, ele abriu, deu a mão pra Lu, entrou na cozinha, cumprimentou os avós. Mostrou a Lu com o dedo e disse: “Só pra falar que ela é minha madinda, tá?
Agora vamos pra piscina!”

Ele sai pra pegar a toalha.

(uma pausa grave... mamãe, vovó e dinda rolando de rir!)


ATO 4:

Todo mundo na beira da piscina, neste domingão de sol e calor...relaxando, relaxando.

Victor, meu filho mais velho (13 anos), me cutuca e fala baixinho:

Victor: Mãe, sábado que vem eu tenho uma festa pra ir.

Eu: É, amor? De quem é?

Victor: ...de uma amiga...

Eu: Que amiga?

Victor: ...da sua xará.

Eu: ...sei. Que horas e onde?

Victor: No lago Norte, depois das nove da noite.

Eu: Tá bom. Eu te levo e te pego.

Victor: tá bem....

(pausa longuíssima...silêncio sepulcral)

...mas tem uma coisa...eu tenho que comprar um presente bem bonito pra ela... porque ela é minha namorada... E tá fazendo 15 anos!

(Cai o pano. No backstage, a mãe apopléctica sai correndo pra tomar um Lexotan)