quarta-feira, 20 de setembro de 2006

Deep dive

(Foto: Bonito/MS)

Há pessoas, acontecidos, formas, cheiros e sons que me conduzem a lugares profundos. Não me pergunte, eu não sei identificar com antecedência o porquê. Na hora, essas coisas me pegam pelo pé e me obrigam a um mergulho fundo. Tô no meio de um desses agora mesmo.

É que sempre tive um grande encantamento pela história de amor de Helio Pellegrino e Lya Luft. Também por motivos pessoais e transferíveis (quem não gosta de contos de fada e histórias de amor, levanta o dedo!), mas muito por ver neles a representação de que é possível viver um amor pleno, intenso e maduro entre duas pessoas inteiras.

Ela, romancista, poetisa e tradutora e também professora universitária e...amiga de Caio Fernando Abreu.

Conheceu Celso Pedro Luft, seu primeiro marido, quando tinha 21 anos. Ele tinha 40 e era irmão marista. Foi numa prova de vestibular. Achou-se ridícula quando pensou: esse é o homem da minha vida! Pois, o irmão marista tirou a batina para casar com ela em 1963.

Nessa paixão, começou a escrever poesia. Os primeiros poemas foram reunidos no livro "Canções de Limiar" (1964). Tiveram três filhos: Suzana, em 1965; André, em 1966; e Eduardo, em 1969. Foi casada com Luft dos 25 aos 47 anos.

Ele, psicanalista, parte de um quarteto de malucos-mineiros-beleza (Fernando Sabino, Otto Lara Resende e Paulo Mendes Campos formavam o resto do grupo...pense bem!), poeta e ensaísta, um ser político na essência e um eterno comprometido com o outro. Tinha, como ele mesmo dizia, a missão de ouvir o outro e tentar salvá-lo, por meio da liberdade. Hélio casou-se, em 1948, com Maria Urbana, com quem teve sete filhos. Maria Clara, Pedro, Hélio, Clarice, Tereza, Dora e João Guimarães Pellegrino. Ficaram juntos por 40 anos. Em 1974, casa-se com a física Sarah de Castro Barbosa, sua companheira por sete anos.

Em 1985, Lya Luft e Hélio Pellegrino se encontraram num congresso de escritores em São Paulo. Conheciam-se apenas de nome; depois, por cartas.
Lya se separa de Celso Luft, para viver com Hélio em 1986. Isso mesmo, menos de um ano...Nove meses depois do primeiro encontro iniciava-se o casamento entre os dois mitos. Uma mulher disposta a começar tudo de novo. Um homem "em sua melhor fase; fascinado pelo mistério: de Deus, da vida, das pessoas, da natureza".

Tragicamente, Hélio morre do coração, em 23 de março de 1988.

Lya, viúva, escreve “O Lado Fatal”, no mesmo ano. Um desabafo, um grito de beleza e dor, uma confissão de abandono e teimosia.

Leia que é maravilhoso. Mas só se você estiver numa fase de forte e sólida felicidade. Caso contrário, faça poupança pras caixas de Kleenex e pro Rescue Remedy.

Bom, há dois dias caiu em minhas mãos LUCIDEZ EMBRIAGADA (só o título e capa já me instigam a ler cada letrinha até o final!), o livro organizado pela neta de Hélio, Antônia. E eu não me canso de ler e reler, com gosto e espanto reflexivo.

E ainda tem uma surpresa, ela é bloggeira também!!!


Entonces, vou ficar aqui, dividindo com vocês fragmentos maravilhosos de Hélio Pellegrino.
Pode, Antônia?