sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Luiz & Aninha

Eu vi o momento exato em que ele deixou o coração cair. Era um movimento espiralado, frenético, incontrolável, quase convulso.

Ele era mais um dos muitos moços sentados naquele bar. Copos cheios de álcool, corações despretensiosos, mentes rápidas, conversas divertidas e muitas gargalhadas entrecortadas pela tosse de um dos amigos que teimava em ter a boca cheia de líquido toda vez que um dos outros falava uma bobagem(né, Julio César?). Era uma mesa divertida, sem dúvida. E muitas outras ao redor padeciam de falta de graça, de pouco ânimo e de alguma inveja do grupo.

Luiz sempre foi o mais calado, observador e ácido dos sete. E também o mais sossegado no quesito mulher. Dado a longos namoros e sofridos finais, com mais sofridas ainda recuperações de longuíssimo prazo, sempre fez questão de não cantar uma mulher. “Isso é degradante. Humilhante pra ela e pra mim. Além de ser coisa de quem só quer tripudiar”, dizia sempre.

Luiz levava meses a fio num embate muito particular, até conseguir transparecer à escolhida o seu afeto. Optava por longas conversas, sem nenhuma segunda intenção que não fosse a de realmente conhecer a criatura. O assunto podia ser a novela das oito, o modus operandi do Conselho de Ética, rock ‘n’ roll ou sua paixão desmesurada por Dostoievski. Discutia de tudo um pouco com a moça, sempre longa e pacientemente.

Quanto às candidatas, quando alguma dúvida - o que era raro – surgia sobre o comportamento interessado do moço e a mim era direcionada alguma pergunta, eu só dizia pra ter calma(quando EU achava que a menina valia a pena. Caso contrário me fazia de doida e mudava de assunto, sem responder... Ou mandava a peça partir pro ataque: método infalível pra ele sair correndo.). É que não se devia esperar dele uma atitude passional, não nessa primeira instância.

Bom, voltando ao bar, eu que estava distraidíssima, no meio de um papo, do nada, no meio da zorra que imperava, a vi passar. Uma moça bonita muito ruiva - daquele tom alaranjado de ruivo que só pode ser de nascença - muito bem vestida, discreta, altiva e recatada até, perto dos modelitos femininos noturnos, digamos assim. Ela ficou de pé no balcão, esperando a mesa.

Luiz descia tranquilamente as escadas na volta do banheiro e parou congelado, faltando 4 ou 5 degraus pro final. E ficou, encostado ao corrimão, por um bom tempo, no meio do empurra-empurra, do barulho, da agitação...com o coração literalmente na mão, sem tirar os olhos da ruiva. Eu via, de longe, o coração dele bater descompassado.

Dez minutos depois, ele ainda ali, sem piscar. De repente, olhou pra nossa mesa, querendo que ninguém estivesse acompanhado o que ele passava e deu de cara comigo. Abriu um sorriso lindo e nervoso, me mandou um beijo com a ponta do dedo indicador, me pediu confidência e silêncio, apontou pra moça ruivinha e levantou o dedão, aprovando o que via. E terminou de descer os degraus.

“Oi, eu sou o Luiz. Sou daltônico e, apesar de todos os meus esforços contrários, eu sabia que e um dia isso ia determinar o meu futuro.”

Com toda a graça, soltou e deixou cair o coração.

Mas ela segurou, embalou, acolheu e tem cuidado dele muito bem...há 5 anos!





Luiz, meu querido, parabéns pelo noivado com a ruivinha mais linda deste mundo!

Fico muito, muito feliz de ter sido espectadora dos primeiríssimos capítulos! ;o)




Todo amor e toda sorte!