sábado, 28 de janeiro de 2006

Depois da tempestade...

...arrumar tudo pra ver se a vida volta pro prumo.
Bonança, meus fios, só se estiver a caminho e eu ainda nem dei por isso.
Eu ando naquele estilo:
Empregada nova começando a se adaptar.
Saúde se restabelecendo.
Casa meio arrumada/meio desarrumada.
Trabalho gritando.
Saudades da família toda junta.
Uma cólica daquelas da adolescência pra arrematar.
Uma chuva de vento, depois de dias de verão, que quase quebra as janelas e o resto da casa.
Meu estômago dando sinal de vida.
Meus sapatos pedindo por uma arrumação de ano novo, algumas doações e uns novinhos que já me comunicaram o desejo de assumir os postos vagos.
Papéis que se eu empilhar me cobrem.
Livros que enfileirados dariam a volta no quarteirão.
Terminar de comprar o material de escola dos meninos + uniformes + mochilas + lancheiras.
Vontade de mudança: não sei de quê, mas por via das dúvidas, fui lá logo e cortei o cabelo. Do longo no meio das costas prum chanelzinho desarrumado...amei!
Bom, e amanhã é aniversário da Jana ( a atual mulher do meu ex-marido, a 'boadrasta' do meu filho mais velho) e quem faz o almoço sou eu: Vatapá.
E segunda às 6h da matina tenho que estar inteirinha pra trabalhar.

...quando a bonança chega?

Já me disseram que é lá pro Carnaval e eu acredito: dia 16 entro no avião pra Bahia, com a família toda!, e só volto dia 1º.


***

Jerico ta melhorzinho das dores?

Rominha ta de volta ao Reino Unido?

Beth volta quando?


***

AH, LEIAM ESSE HOMEM!

MAPA
Murilo Mendes

Me colaram no tempo, me puseram
Uma alma viva e um corpo desconjuntado.
Estou Limitado ao norte pelos sentidos, ao sul pelo medo,
A leste pelo Apóstolo São Paulo, a oeste pela minha educação.
Me vejo numa nebulosa, rodando, sou um fluído,
Depois chego à consciência da terra, ando como os outros,
Me pregam numa cruz, numa única vida.

Colégio. Indignado, me chamam pelo número, detesto a hierarquia.
Me puseram o rótulo de homem, vou rindo, vou andando, aos solavancos.
Danço. Rio e choro, estou aqui, estou ali, desarticulado,
Gosto de todos, não gosto de ninguém, batalho com os espíritos do ar,
Alguém da terra me faz sinais, não sei mais o que é o bem
Nem o mal.

Minha cabeça voou acima da baía, estou suspenso, angustiado, no éter,
Tonto de vidas, de chriros, de movimentos, de pensamentos,
Não acredito em nenhuma técnica.
Estou com os meus antepassados, me balanço em arenas espanholas,
É por isso que sai às vezes pra rua combatendo personagens imaginários,
Depois estou com os meus tios doidos, às gargalhadas,
na fazenda do interior, olhando os girassóis do jardim.

Estou no outro lado do mundo, daqui a cem anos, levantando populações...
Me desespero porque não posso estar presente a todos os atos da vida.
Onde esconder minha cara? O mundo samba na minha cabeça.
Triângulos, estrelas, noites, mulheres andando,
presságios brotando no ar, diversos pesos e movimentos me chamam a atenção,
o mundo vai mudar a cara,
a morte revelará o sentido verdadeiro das coisas.

Andarei no ar.
Estarei em todos os nascimentos e em todas as agonias,
Me aninharei nos recantos do corpo da noiva,
Na cabeça dos artistas doentes, dos revolucionários.
Tudo transparecerá:
vulcões de ódio, explosões de amor, outras caras aparecerão na terra,
o vento que vem da eternidade suspenderá os passos,
dançarei na luz dos relâmpagos, beijarei sete mulheres,
vibrarei nos canjerês do mar, abraçarei as almas no ar,
me insinuarei nos quatro cantos do mundo.

Almas desesperadas eu vos amo. Almas insatisfeitas, ardentes.
Detesto os que se tapeiam,
os que brincam de cabra-cega com a vida, os homens “práticos”...
Viva São Francisco e vários suicidas e amantes suicidas,
os soldados que perderam a batalha, as mães bem mães,
as fêmeas bem fêmeas, os doidos bem doidos.
Vivam os transfigurados, ou porque eram perfeitos ou porque jejuavam muito...
Viva eu que inauguro no mundo o estado de bagunça transcendente.
Sou a presa do homem que fui há vinte anos passados,
dos amores raros que tive,
vida de planos ardentes, desertos vibrando sob os dedos do amor,
tudo é ritmo do cérebro do poeta. Não me inscrevo em nenhuma teoria,
estou no ar,
na alma dos criminosos, dos amantes desesperados,
No meu quarto modesto da praia de Botafogo,
no pensamento dos homens que movem o mundo,
nem triste, nem alegre, chama com dois olhos andando,
sempre em transformação.


Murilo Mendes, um dos mais importantes poetas brasileiros, nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, em 13 de maio de 1901 e morreu em Lisboa, no dia 13 de agosto de 1975.