O sujeito muito engravatado e muito sisudo, com aquela voz convencional de radialista do século passado, entra no estúdio às sete da manhã. Lê normalmente as notícias nacionais do dia e quando começa o jornal regional, o cara espoca, literalmente, de tanto rir, carregando todo mundo junto.
Avalie se você também não riria:
"Frangos morrem na região de Feira de Santana, na Bahia.
Não foi cogitada em nenhum momento a possibilidade de ser a gripe das aves, pois o País não está em rota de risco e nenhum registro da doença foi encontrado nestes últimos anos, disse Aurino Soares, coordenador regional da Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab), em resposta a uma dezena de mortes de frangos no distrito de Tiquaruçu, em Feira de Santana, a 109 quilômetros de Salvador. De acordo com o coordenador, após tomar conhecimento de que alguns criadores de frango da região teriam perdido algumas aves de forma misteriosa, uma equipe foi encaminhada para o local e, após uma conversa com os moradores (ou seja, os franguinhos não foram excaminados, sequer...), descobriu-se que a causa da morte seria estresse calórico, ou seja, que as aves estavam desidratadas pela exposição excessiva ao calor.(vieram de onde esses bichinhos? Do ártico? Porque frango nascida na Bahia num morre de calor, convenhamos!)"
Em seguida:
"Índios ocupam fazenda em Itaju
Um grupo de cerca de 20 índios da tribo Pataxó Hã-hã-hãe, com armas e dando tiros para o alto, invadiu a fazenda de Ozorino da Silva Santos Filho, na região das Alegrias, em Itaju do Colônia, a 499 quilômetros de Salvador. Os pataxós hã-hã-hães estariam reagindo ao cumprimento da liminar para reintegração de posse dos imóveis Fazenda Alegria e Conjunto Fazendas Reunidas Alegria, que estaria prevista para amanhã. A liminar foi expedida pelo juiz federal Pedro Calmon Holliday, da Vara Única de Ilhéus. "
...só na Bahia!
***
E os meus amigos, mais do que solidários e preocupados com as minhas indagações de ontem, começam a mandar respostas possíveis.
Olha esse email de antes das 8h da manhã...isso que é começar bem o dia.
Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra
vista que não as janelas ao redor. E porque não tem vista, logo se
acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não olha pra fora, logo
se acostuma a aceder cedo a luz. E a medida que se acostuma, esquece o sol,
esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora.
A tomar café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus
porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduiche porque não dá
para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus
porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone. Hoje não
posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser
ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita.. E
a lutar para ganhar dinheiro com que pagar. E a pagar mais do que as
coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais
trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em
que se cobra.
A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e
cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os
olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável.
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas,
tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali,
uma revolta acolá. Se a praia está contaminada a gente molha só os pés e
sua no resto do corpo. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira
fila e torce um pouco o pescoço. Se o trabalho está duro a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda
fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.
Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para poupar o peito. A gente
se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, que se perde de si mesma.
EU SEI MAS NÃO DEVIA
(Clarice Lispector)
Foi o Luiz que mandou! Fofolete de Belinha, merci!
Num resolve os meus "pobrêma", mas dá uma luzinha da mais alta qualidade, amore.
Veleuuu!
quarta-feira, 25 de janeiro de 2006
...mas a gente se diverte...
Postado por Bela às 10:36 AM
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