terça-feira, 17 de abril de 2007

ELAS DIZEM NÃO

Meu pai, encantado com a histária de amor de meu filho caçula, Caio, resolveu me presentear com isso.

Vê se eu posso com esses dois...





Meu neto Caio, 5 anos, está fascinado pela Ingrid, uma moreninha trigueira, fita vermelha no rabo-de-cavalo, sua colega no Jardim da Infância. "Ela é a mais bonita da escola. E a mais interessante, também, meu avô" - disse-me ele num tom em que eu pressinti algo como "não é pro meu bico". Sem querer levar adiante uma precocidade já existente, cheguei devagar ao terreiro, interessado apenas em levantar o astral dele. "Vocês brincam de que no recreio?". A resposta veio carregada de uma evidente desilusão: "Ela não brinca com os homens, só com as mulheres".



O motivo dessa gravíssima discriminação de gênero, segundo a própria musa, foi um colega que sentava atrás dela no ano passado, e ficava o tempo inteiro cutucando a nuca da bela ou puxando-lhe os cachos cor de mel. E Caio concluiu: "Ela agora acha que todos os homens só servem pra chatear, igual àquele pentelho".



Eu então garanti que o caso estava resolvido, mole, mole. Bastava demonstrar a Ingrid que ele era diferente, feito de outro barro, queria se divertir junto com ela, e não contra ela. Aí percebi na resposta que o meu neto já começa a pagar o tributo que nos é cobrado por afastar os véus do universo feminino. "Só que eu tenho vergonha, vô", disse ele em confissão, com os olhos baixos. "Vergonha de que, meu filho?" - reagi, para animá-lo - "Ela vai adorar lhe conhecer, brincar com você, conversar com um cara inteligente, alegre, bonito, legal pacas, como você é".


Ele finalizou forte, certeiro e no canto, sem defesa pro goleiro: "Já tentei uma vez... Fui lá no parquinho e pedi: por favor, Ingrid, posso brincar com você? E ela disse: não, homem não brinca com a gente". Ferido pela primeira rejeição, Caio deu o tiro de misericórdia em meu otimismo inútil: "Esse, meu avô, é o grande problema das mulheres".